quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Numa varanda do labirinto


Sentei-me numa varanda do labirinto,
a ver a noite desfiar um rosário de sombras vagas
e a arrastar no assoalho dos céus
o vestido rasgado pelas mãos sujas da ventania.
É meia noite e chove.
Espreitando entre véus de algodão pardo
a Lua devora um naco de escuridão.
Um cutelo de água fria, esventra
o corpo adormecido da calçada.
Repetidamente o esfaqueia, até se cansar,
e, num ápice, se transforma num lençol transparente.

Um caranguejo de lama, vagueia pelas esquinas,
batendo a todas as portas.
Num enregelado delírio,
palmilha os rochedos de alcatrão,
espirra nas margens de uma sarjeta,
e vai desovar no seio das vielas.
Ao longe, um rumor de vozes fervilha,
como inquieto lamento de mil tambores.
E eu, aqui, numa varanda do labirinto,
hesitante, entre esperar o amanhecer
ou me render aos fantasmas do sono.






poema escrito 2008-09-18
Post views: counter

2 comentários:

Anónimo disse...

Encantada amigo RUNA POETA!
Belissimos versos!
Meus aplausos sempre!
Bravo!!!
beijos meus!

alma disse...

Runa,

sempre os conflitos interiores que nos sesabam na varanda.

bj
Eduarda

Enviar um comentário

Obrigado pela visita. Se puderes, deixa uma mensagem.

Abraço. Volta sempre.

Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...