quinta-feira, 9 de setembro de 2010
Orçamento geral do estado
Soa-me a pérolas falsas
a cantiga matinal dos búzios
anunciando num sopro de vento
o retorno miraculoso dos navios.
Olho em redor e apenas vejo
a inquietação salgada das marés
a devolver às areias da praia
os vómitos contaminados da ondulação
e um rasto de conchas amputadas.
Numa vertigem de águas estagnadas,
o êxtase demagógico dos caranguejos,
no lodo da praia-mar,
anuncia um principio de nada,
uma cacofonia de algas mortas;
promessa sempre adiada
de um sol que nunca chega.
Sobre as tábuas velhas do pontão,
o temporal iminente
ergueu uma muralha de nuvens
fechando a cancela do horizonte.
As gaivotas, incapazes de alçar voo,
aninham-se no escuro
à volta de uma réstia de despojos
e a luz baça do farol
afunda-se numa noite de espuma,
junto às quilhas desmanteladas
dos barcos que enferrujam no cais,
sem sombra alguma de esplendor.
Mesmo que diga o contrário
a cantiga matinal dos búzios.
poema escrito em 2010-08-29
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