domingo, 22 de dezembro de 2013

Eternidade branca


Era um tempo incerto e remoto
que a memória já não distingue.
Tinha eu de novo nascido
ou talvez tivesse apenas morrido
e flutuasse entre luz e escuridão
como fio de água que o rio arrastava
numa súbita e ofegante transparência.
Não sei já se chegava
ou se me preparava para partir,
se vinha de um longe desconhecido
ou se ia para mais longe ainda.
Estava numa fronteira distante
entre duas realidades difusas
e meu corpo, inocente e despido,
guardava ainda o aroma a terra fresca.
Ou será que era o perfumado ardor
de um útero que se tinha incendiado?
Não consigo recordar quando foi
nem que idade teria nesse tempo,
sei apenas que rodopiava no vazio
atravessado por uma eternidade branca.

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terça-feira, 10 de dezembro de 2013

Revelação


Desfolho-te lentamente como um livro secreto
que esperou entre o pó das prateleiras
que eu viesse de longe beber as palavras
que vestem as folhas brancas da tua nudez

Estendo os braços e acendo esse lume
como quem retoma uma leitura há muito interrompida
a febre de um sentimento nunca consumado
a cega vontade de te decifrar

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