sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

NEFERTITI - A bela que veio


I

Frente a um espelho de prata
uma mulher contempla seu rosto.
O mais belo entre os mais belos.
Não é ainda a pompa e o mito
que o tempo há de amadurecer.
Apenas um rosto jovem e radiante.
Uma joia que chega pela manhã
envolta na transparência do linho.
Como o sol que desponta
incendiando o rebordo das dunas.


II

Um coro de jovens e formosas virgens
entoa cânticos de júbilo.
Um hino a anunciar um recomeço.
Um ciclo de glória e redenção.
Retinem sistros de prata
flautas e harpas de doze cordas.
A casa está de novo iluminada.
Uma nuvem de incenso ergue-se
como um obelisco perfumado
espargindo a boa-nova.


III

Abrem-se as portas do templo
para receber aquela que veio.
Ungida pelas águas do rio
e coroada pelos sete raios solares
chega numa liteira dourada
coberta por um véu diáfano.
Uma coluna de escravos negros
transporta-a no alto dos braços
e com suaves e ritmados movimentos
aos pés do trono a depõem.


IV

Dezoito dias duram os festejos
dentro das muralhas da cidade.
O tempo que a tradição reclama
para que se cumpram todos os presságios.
São invocadas as deusas da fertilidade.
Ritos que reproduzem movimentos cósmicos
e garantem a ancestral harmonia
com os mundos ocultos e superiores.
As luzes que agora se acendem
irão arder toda a noite.

__________________________________________

quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

O anjo rejeitado


Um anjo coroado de espinhos, avança
como um nome anunciado pelo vento.
Não sabemos quando foi que chegou
e porque caminha na nossa direção.
Não vemos que a luz à sua volta
sobressai e se torna plena e imutável
ofuscando a noite nessa cintilação.
Ninguém sabe ainda donde veio
esta respiração que varou desertos
trazendo um sentido novo e vasto
a um sentimento que desconhecíamos
e não somos capazes de reter.
Um som que diverge das outras vozes
e sacia a sede que no íntimo fere.
Há quem diga que é apenas ilusão
provocada pela névoa excessiva
de quem vive há muito sob o peso da poeira
e viram-lhe costas, sacudindo as mãos.
Outros, dando voz a sonhos mais profundos
juram que é um pastor de ovelhas perdidas
que veio juntar o rebanho tresmalhado.
Mas ninguém dá um passo em frente
que o resgate ao furor demente dos lobos
ou lhe redima o corpo que tomba.
Mergulhados nessa bestial cegueira
demasiado tempo levámos a desvendar
o segredo incompleto do seu nome
e o milagre de o termos aqui entre nós.
E quando finalmente abrimos os braços
procurando o calor da sua labareda
ou um abrigo para apaziguar a dor
ele já havia seguido caminho.

______________________________________________
Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...