terça-feira, 28 de setembro de 2010

Sonho de poeta


Vive dentro de mim
uma voz que me sussurra
estes versos que reinvento
no coração das horas solitárias.
Uma voz sem idade nem rosto
que me guia os dedos trémulos
pelos labirintos de papel
onde desenho o movimento do mar
e as cores do poema,
como um barco de fumo
que passa sob a ponte invisível
cruzando as margens distantes
de um imenso e descampado rio.

Não sei a quem pertence
esta voz rouca que me habita
e me enche os pensamentos
com o ritmo sufocante
de um ardente respirar.
Um sotaque de ventania
a assobiar dentro das sílabas;
o pulsar ofegante de um desejo
que me impele constantemente
a arranhar a face lisa desta folha,
numa busca cega pelo equilíbrio
de um punhado de palavras
que talvez ninguém vá ler.

Dentro de mim,
nas janelas abertas deste túmulo,
vive o sonho de um poeta.






poema escrito em 2010-08-02
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2 comentários:

rosa-branca disse...

Dentro dessas janelas abertas vive sim um poeta e um lindo coração. Há que semear as palavras para assim alguém as ler. Há que florir os sentidos para um doce despertar. Há também que guarnecer a nostalgia de ternura para essa voz dar o toque da felicidade. Adorei poeta teus sentires, embora me deixe nostalgica. Beijos com muito carinho

Anónimo disse...

Assim é o poeta, rasga sonhos na folha virgem e não pode conter as palavras porque não manda na poesia mas é comandado por ela. Belíssima poesia Runa, descrição perfeita de todos aqueles que não escolheram a poesia mas sim a poesia que os escolheu. Beijos no coração. Bom dia pra ti.

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