Gostava de envelhecer sem sobressaltos
num recanto iluminado pelas carícias da alvorada
a desenhar no branco dos dias por escrever
o silêncio dos versos guardadas no peito
Gostava de envelhecer sob o rumor das mantas
acariciando as cores esbatidas da infância
sem o som de cascos a rasgar na poalha dos ossos
a amnésia cega e irreversível do poente
Gostava de envelhecer como quem chega de viagem
e se deixa embalar pelo requiem da memória
tecendo as palavras que me servirão de legado
até que uma sonolência lenta e profunda
se erga da fragilidade de um poema interrompido
e me arraste pela eterna cegueira do crepúsculo
transformado numa serena estátua de areia
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