sábado, 28 de janeiro de 2012

Cupido adormecido


Exausto de tecer as secretas paixões
que o destino baralha constantemente
com mão ciumenta e enrugada
o pequeno cupido pousa o arco
e as flechas de ponta aguçada
com que atiça o desejo dos amantes
e deixa-se afundar num sono profundo
sonhando com a eternidade do amor.


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sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Infância adiada



as crianças sentam-se no banco
onde não tem jardim
a brincar com o verde
onde não corre a esperança
na manhã que desperta
onde não brilha o sol
num lugar de encruzilhadas
onde não existem caminhos
num sonho de asas inchadas

onde já não há crianças


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sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Persistência da memória


Os ponteiros parados
numa baça vigília
marcam a réstia estéril
de uma febre de encruzilhadas;
a visão de um lume antigo
no fundo negro da tela
a diluir-se na erosão dos equinócios
e na abstrata paisagem
onde o vazio embala
a herança errante
da transparência corroída das manhãs.

A voz de uma ressaca anónima
num horizonte de espelhos enrugados
tece o sono vago dos dias
acorrentados a um corredor de névoas
num exercício de obscuros ócios
mastigando a insónia lenta do tempo
no estertor nostálgico
e persistente da memória

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sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Secreta respiração dos amantes


Entre os véus de fumo aveludado
que tecem o cristal dos aromas noturnos
mãos enlaçadas num suor de luzes escondidas
procuram a sedução proibida dos corpos
nas camas de cascalho e plumas
onde a explosão de lava dormente
cresce nos lábios derretidos do vulcão.

Nos tetos suspensos do luar
um roçar de asas estendidas
acende um fogo de leques transparentes
a queimar o incenso de línguas rasgadas
num ritual de secretos desejos
por detrás das portas onde pulsa
o clamor febril das fogueiras.

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