quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Sonhos renovados *

* Óleo sobre tela de Flor (Reinadi Sampaio)


As folhas esquecidas pelo vento
repousam num banco de jardim
onde os dedos exaustos do pintor
deixaram as solitárias tonalidades
de uma ausência que o outono respira

uma árvore que se despe em silêncio
alargando a transparência dos braços
para que a luz de um sonho antigo
se possa assim libertar da inércia
e de novo nos venha iluminar por dentro

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sábado, 8 de setembro de 2012

Vendas e mordaças


No olhar das crianças
ainda há vestígios de luz.
Um brilho fugaz que atravessa
o gelo dos corredores
antes de se perder
num marasmo de sombras.

No olhar das crianças
há ainda uma esperança
que resiste em surdina
até que o frio saia
detrás das cortinas
e lhes devore as pupilas.

Ao longe
ouve-se o gemer enferrujado
de velhas máquinas de costura
a alinhavar vendas e mordaças

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sábado, 1 de setembro de 2012

Domadora de borboletas


Abres os braços
e na ponta dos dedos
pousam-te borboletas azuis

Ou será que é o vento
a abraçar teu corpo
de porcelana?


Levantas o vestido
como quem chama a noite
e há um sobressalto de estrelas
a incendiar o horizonte

Ou serão borboletas fugazes
simulando
com o celofane das asas
a metamorfose do teu corpo despido?


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