terça-feira, 14 de setembro de 2010

Silêncio



É no silêncio que me encontro,
quando me escondo da face do mundo,
encolhido
dentro dos ossos frios do pensamento.
Lentamente, deixo cair a máscara
que me protege dos olhares furtivos
e esconde as cicatrizes acumuladas
desta ininterrupta maré de lama
que vem na enxurrada inútil dos dias,
e deixo-me levar pela corrente,
à deriva por entre os destroços.

Ninguém conhece os segredos que me habitam
nem o que pulsa neste coração ferido.
Ninguém vê o arrepio que se entranha na carne frágil
quando me debruço sobre a própria sombra.
Ninguém me vê quando choro.

Às escuras,
dentro de mim,
sigo as sombras ofegantes
que me enlaçam pela cintura,
traçando círculos de gelo
nas colinas fustigadas do meu peito.
E choro.
Levo as mãos ao rosto,
manchado,
bebendo as lágrimas perdidas
desta esponja ensopada em vinagre,
e encolho-me,
mais fundo ainda,
dentro da dor que pinto ao vento
com os ensanguentados versos
destes dedos vazios.

Pouso a caneta, por momentos,
acendo um cigarro
e recosto a cabeça.
Fecho os olhos
e continuo a chorar.
Em silêncio.

Só eu sei porquê.


poema escrito em 2010-08-02
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