segunda-feira, 8 de julho de 2013

Cinco décadas


Um rosto com cinco décadas
enfrenta-me do outro lado do espelho
jurando que é o meu reflexo.
Deteto-lhe um sorriso vago
que me faz lembrar por instantes
qualquer coisa da infância
mas não me reconheço nesta miragem
baça transparência de um corpo
esmagado pelo crescimento dos ossos.

Olho-me uma vez mais
como quem contempla uma foto gasta
e o espelho não me mostra quem fui
mas apenas um vago reflexo
um afastamento abstrato e envelhecido
que o estio foi cristalizando;
aquilo que agora sou:
um rosto com cinco décadas de profundidade.

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