quarta-feira, 22 de setembro de 2010
Cegueira
Numa inércia de condenados, mergulhei
nas águas profundas de um lamento, à espera
que a humidade da noite lavasse o pus das feridas
e o rasto vagaroso dos dias
apagasse a serapilheira da tua sombra renitente,
que insistia em assobiar nas janelas,
como um murmúrio de pássaros negros.
Bebi a dor nas águas inquinadas do fundo do poço,
onde não chega o cântico das manhãs
e as folhas arrancadas pela fúria do outono
ensopam a luz dos sonhos derramados.
Com o suor azedo dos meus versos
cimentei as fendas rasgadas no peito,
por onde me invadiam as heras da solidão,
nas noites em que recordo teu perfume distante.
Lentamente, resgatei o corpo e a alma
à viuvez selada do meu coração.
Mas continuo cego. Sem nada ver.
Feitiço algum me devolve a luz do olhar,
após ter sido contaminado pelo clarão do teu rosto.
poema escrito em 2010-09-02
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
1 comentário:
Olá poeta Runa! Teu poema é forte, intenso e de partir o coração! É como se tudo o mais perdesse a importância após a chegada do amor e, principalmente, após sua partida. Lindíssimo! Parabéns!!!
beijos
Enviar um comentário
Obrigado pela visita. Se puderes, deixa uma mensagem.
Abraço. Volta sempre.
Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.