sábado, 24 de setembro de 2011

A abertura do dia


Antes que o dia abra as portas
para que as pessoas possam nele entrar,
muito é o trabalho feito a encoberto da noite
no silêncio difuso da madrugada.
Funcionários anónimos e mal remunerados
varrem átrios e corredores
expurgando-os dos despojos do dia anterior,
lavam vidros de montras e janelas
por onde a claridade há de passar,
descarregam das camionetas alugadas
a luz do sol que vem em paletes
e que é preciso montar ainda.
Enceram soalhos e estendem passadeiras
por onde a manhã desfilará,
substituem os sacos nos caixotes
onde iremos deitar o lixo das horas acumuladas
que de nada nos servem;
num tinir frenético de vassouras, rodos e esfregonas
a raspar, polir e esfregar,
numa azáfama que passa despercebida
a quem se levanta e depara com o dia já aberto.

Todo um trabalho de cosmética tem de ser feito
a tempo e horas
com uma precisão de ponteiros
para que o dia possa chegar sem atrasos
à hora a que tem de chegar.


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domingo, 18 de setembro de 2011

O direito de chorar em público


Um primitivo e cruel mito
vedou a todos os homens
o direito de chorar em público

Quando o fazem
é sempre em profundo silêncio
num canto escuro da noite
numa cela solitária e fria
rodeada de sombrias abóbadas
como uma esfinge exilada
num vazio de areias hostis

Ninguém lhes ensinou
como expulsar os sentimentos
que cercam o coração ferido
quando o rosto se liberta
da máscara insensível da cal
e uma fonte oculta verte
as águas de um caudal reprimido

Sua dor é maior ainda
por não terem com quem dividir
o esplendor das lágrimas caídas
 

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sábado, 10 de setembro de 2011

Agradecimento e esclarecimento

Respondendo a algumas dúvidas aqui colocadas no meu post anterior, deixo abaixo os links onde podem fazer o download gratuito dos meus livros. Quem preferir adquiri-los em papel poderá igualmente fazê-lo a partir do site, embora, em termos monetários, eu nada ganhe com isso, uma vez que os preços são os estipulados pela editora pelos custos de edição (sendo apenas alguém que gosta de se expressar em versos e que não pretende fazer da escrita um meio de subsistência, aos preços da editora não adicionei qualquer lucro, até porque, salvo raras exceções, sou eu quem os adquire).

Quero aqui deixar o meu profundo agradecimento àqueles que amavelmente ofereceram seus blogs para divulgar aquilo que escrevi. Estas demonstrações de afeto são, para mim, mais importantes que qualquer livro vendido.

Cá vão então os links:

Página de Autor:

Livros:

A MÁQUINA DE GERAR NÉVOA
(100 poemas escritos entre 03/2011 e 08/2011)
Preço: 8,21 € + portes
















Download em pdf:
http://www.bubok.pt/downloads/download_gratis?book=NDQzMi0yMDExMDkxMC0yNTQyNQ==


O OUTRO EU
(73 poemas escritos entre 09/2010 e 02/2011).
Preço: 7,79 € + portes









Download em pdf:
http://www.bubok.pt/downloads/download_gratis?book=NDQzMS0yMDExMDkxMC0yNTQyNQ==


ATÉ QUE A LUZ NOS RESGATE
(83 poemas escritos entre 05/2010 e 08/2010).
Preço: 7,39 € + portes









Download em pdf:
http://www.bubok.pt/downloads/download_gratis?book=MjQ3My0yMDExMDkxMC0yNTQyNQ==


Coisas mais antigas:


SEGUINDO O ESCOAR DO TEMPO
(90 Poemas escritos entre 1985 e 2009)
Preço: 6, 91 € + portes









Download em pdf:
http://www.bubok.pt/downloads/download_gratis?book=NzY1LTIwMTEwOTEwLTI1NDI1


DESTE LADO DA CERCA
(91 Poemas escritos entre 2000 e 2010)
Preço: 6, 84 € + portes









Download em pdf:
http://www.bubok.pt/downloads/download_gratis?book=MTMwOC0yMDExMDkxMC0yNTQyNQ==


À ESPERA QUE A SORTE MUDE
(76 Poemas escritos entre 1989 e 1999)
Preço: 6, 47 € + portes









Download em pdf:
http://www.bubok.pt/downloads/download_gratis?book=ODQ5LTIwMTEwOTEwLTI1NDI1


CRÓNICAS DO FUNDO DO POÇO
(49 Textos escritos entre 1987 e 1993)
Preço: 7, 11 € + portes









Download em pdf:
http://www.bubok.pt/downloads/download_gratis?book=NzgyLTIwMTEwOTEwLTI1NDI1


ENTRE A LUZ E A SOMBRA
(80 Poemas escritos entre 1984 e 1989)
Preço: 6, 56 € + portes









Download em pdf:
http://www.bubok.pt/downloads/download_gratis?book=ODQxLTIwMTEwOTEwLTI1NDI1

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sábado, 3 de setembro de 2011

Edição de autor *



Peguei nos meus melhores poemas
dispersos por um monte de cadernos
de capa negra e folhas amarrotadas
e durante três dias e três noites
sem desviar os dedos do teclado
datilografei-os no processador de texto.
Depois enviei-os para um site
que promete fazer de qualquer principiante
um escritor de repentino sucesso
e recebi-os na volta do correio duas semanas depois
em formato impresso, devidamente encadernados
com capas que eu próprio desenhei.
Um processo rápido e simples
sem perguntas ou condições
sem páginas rasuradas nem textos reprovados.
O que enviei em ficheiro foi o que recebi em livro.
O único senão em todo o processo
foi a estranha sensação com que fiquei
ao ver-me a comprar os meus próprios livros.

Durante mais de uma semana
tive-os em cima da mesa-de-cabeceira
como um troféu de guerra
ou um tesouro de incalculável valor.
À noite desfolhava-os vagamente
lendo uma página por outra
digerindo lentamente o sonho concretizado.
Até que chegou a hora de os guardar na estante
na prateleira dedicada à poesia
entre o Nuno Júdice e o José Jorge Letria
empurrando para os lados
o Manuel Alegre e o Joaquim Pessoa
que esboçaram um ligeiro protesto
mas acabaram por encolher os ombros
e se apertarem mais ainda contra as paredes.
Na mesma prateleira onde se perfilam
as memórias de Al Berto, Jorge de Sena,
José Gomes Ferreira e até do outro Pessoa,
o Fernando, mais a sua miríade de reflexos.
Onde também há lugar para os mais novos
tais como: José Carlos Barros,
José Miguel Silva, Rui Pires Cabral,
Jorge Gomes Miranda e José Mário Silva,
entre outros, todos demasiado ocupados
a olhar para o seu próprio umbigo,
para me virem saudar ou sequer dar pela intromissão.

Eu é que não me preocupo nada com isso
pois sinto-me muito bem ali ao lado deles
a gozar o meu inesperado estrelato.



(*) - Edição de autor é uma publicação cujo custo é sustentado pelo próprio autor. Tal pode dever-se tanto a incapacidade de encontrar uma editora que invista no autor, como a uma política de liberdade editorial, apreciada por alguns artistas.
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