segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Último capitulo



Meu pai morreu!

Numa fria manhã,
num anónimo dia de Inverno,
o gongo soou,
estridente,
e ele, recolhendo sua bagagem,
partiu,
sem rebuliço, nem lamentações.

Por mais de sete décadas,
com grande tenacidade, resistiu,
a ventos adversos
e aos sombrios desígnios da tormenta,
sem se afastar da rota traçada
nem ceder
ao sibilar encantado das serpentes emboscadas.

Atravessou rios e mares,
lutou, nadou e esbracejou,
e agora,
que o peso da matéria se tornara
a cada dia mais insustentável
e seu espírito extenuado
por longo e penoso cativeiro
não mais podia suster o fôlego
e a ânsia de rasgar novos horizontes,
com inabalável fé se entregou
à brisa da manhã que despontava,
aliviado dos anos e das dores.


Meu pai morreu!

Mais que o extinguir de uma chama,
é uma nova luz que se acende
na treva do seu caminho,
uma página que o vento virou,
e um capitulo mais que findou
de sua eterna história.
Último capitulo de um pequeno livro
e, ao mesmo tempo,
novo capitulo de um novo livro.



poema escrito em 2003-07-16
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2 comentários:

rosa-branca disse...

É meu amigo...não estás sózinho...o meu partiu num lindo dia de Abril...mas a visão é sempre negra. O poema é lindo. Resta-nos o pensarmos que acabou o sofrimento e talvez haja alguma luz...será?...por mim nem sei no que acreditar. Beijos com carinho

Maria Emilia Moreira disse...

Um poema repassado de amor e de saudade por um ente querido que partiu.É um luto que carregamos no coração pela vida fora. Um abraço.

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