quinta-feira, 16 de setembro de 2010
Sina
Carrego o corpo dormente daquilo que fui
na memória penosa de passos arrastados,
buscando na erosão prolongada dos dias
o fio débil do meu destino suspenso,
traçado a giz no compêndio dos astros.
Nenhuma certeza habita meus pensamentos.
Perdi-me algures, naquilo que nunca fui,
incapaz de ser aquilo que me penso
ou o que em delirantes sonhos concebo
na inércia pardacenta de velhos muros.
Uma vertigem de caminhos enredados
leva-me ao dédalo angustiante das noites
que me afastam dos portos da infância,
onde bebo o espólio das quimeras vencidas,
envolto no assombro do nada que me cerca.
O mistério insolúvel da minha identidade
não mo revela o oráculo divino dos ventos,
nem os lábios arrefecidos da esfinge se movem
se lhe pergunto porque me tremem os dedos
quando escrevo sobre o que não aconteceu ainda.
O que serei amanhã, que hoje não sou?
O que deixarei nas margens do incerto
quando o entardecer bater com a porta
levando a luz subtraída ao pó das manhãs?
Trará o futuro algum sonho por reclamar,
ou apenas me aguarda o clamor da alma
ruindo no marasmo da ultima escuridão?
Todas as dúvidas me condenam ao vazio
e ao caminho ermo, que não me devolve
o sentido perdido, lá longe, no dia em que cresci.
Onde me retornará minha sina difusa
quando se esgotarem todos os caminhos
destas linhas cruzadas do destino
no suor enrugado da palma das mãos?
poema escrito em 2010-09-16
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1 comentário:
*Todas as incertezas, craqueladas na palma d'alma, que talvez sejam na realidade, nossas únicas certezas, passeiam no meu olhar ao ler-te.
Sinto tua escrita como um eco das minhas mais profundas e interiores lacerações que trago no velino.
A densidade do teu verbo me toca pois eu vivo cada verso teu.
Destino, sonhos, ilusões, caminhos perdidos, a dor no imo... a noite que me afoga, o dia que me interroga...
Sei lá, só sei que admiro teu dom em calcar na palavra o fremir do sentimento.
Beijo-te com admiração
Karinna*
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