segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Polaridade invertida


O olhar perdido na sombra do alpendre
bebe o pouco que resta, da luz estagnada
no estuque arruinado dos muros
e na terracota de longínquas memórias,
onde um eco de vozes sussurrantes
entoa a cantiga esquecida dos ventos.

Os pássaros sombrios do outono
desceram as colinas do teu corpo enrugado
onde o alento mirra, em cada folha que cai,
em cada novo dia que te desfolha,
na tristeza do musgo que trepa a pedra fria
nos últimos degraus do crepúsculo.

Vencida pelos limites vagos do futuro,
refugias-te nas varandas do passado,
e descobres que há um tempo na vida
em que a polaridade dos sonhos se inverte,
e a ilusão caduca dos dias vindouros
reverte àquelas manhãs antigas, em que
o sol dançava na linha morna do horizonte.



poema escrito em 2010-09-20
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1 comentário:

Anónimo disse...

Estou aqui deslumbrada com teus versos!
Lendo cada poema...cada texto encantada!
Beijos meus Poeta!

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