segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Hora de partir



São horas de partir.

O sol dobra já as colinas do poente.
Os relógios marcam o tempo de dizer adeus.
Faz as malas e despede-te,
como quem se precipita das inadiáveis alturas
de um solitário pontão.

A casa fervilha de inquietas sombras.
Acendem-se lâmpadas frias no cais cinzento.
Os últimos ventos
dançam na penumbra das camas desfeitas.
É tarde para sonhar.

Azedam as horas no lume brando dos ponteiros.
Rangem dobradiças velhas na ferrugem dos portões
que se abatem sobre as rugas de um fôlego derradeiro.
São horas de partir.

O tempo não espera por ninguém.






poema escrito em 2010-08-01
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4 comentários:

rosa-branca disse...

Pode ser que me engane, mas eu acho que os dois poemas se completam. O tempo não espera por ninguém...aliás...o tempo não passa por nós...nós é que passamos pelo tempo. O tempo fica. Beijos amigo

Runa disse...

É verdade que se completam, no entanto, entre os dois existem sete anos de diferença. O tempo passa, mas alguns momentos nunca se esquecem. Obrigado pelo teu carinho. Beijos para ti, também.

Reinadi Sampaio disse...

Meu amigo, como sempre deixas-me sem palavras quando leio tuas poesias, encantam-me todos os versos, deles brotam algo muito mais que meros versos poéticos, eles transcendem ao pensamento comum daqui - vão muito mais além... - e nos falam "do partir", duma forma tão especial, que este partir se torna profundamente belo e nos faz sentir que "ir" é tão infinitamente significativo e duma beleza ímpar, como o "viver aqui e o ficar...".

Mas...

"Alguém há, quem o tempo olha
Olha com a hipocrisia própria
De quem tem o poder de fazer
E desfazer a seu belo prazer
Porque o tempo ri com escárnio dele
Quando se promove o futuro de forma inconsistente
É o tempo que dita as regras do jogo
Que faz as leis
E exige que se cumpra a sua vontade
Podemos ter a ousadia de desafiá-lo
Mas nunca de vencê-lo... O tempo..."
(Reinadi Sampaio - fragmento de "Que saudade de ter tempo)

Um grande abraço fraterno meu amigo
Reinadi Sampaio

Mallika disse...

Tuas poesias tocam o que nos é mais frágil; a alma.

Belas e sombrias como a vida.

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