quarta-feira, 1 de junho de 2011

Caminhos cercados


Uma alvorada de sinos decota o silêncio
pasmado no sangue envidraçado das manhãs.
Nos alpendres arruinados de uma divindade cega
o unicórnio negro tenta romper
o círculo mórbido do betão a céu aberto
esgravatando com os cascos em ferida
nos recantos de pedra de um horizonte selado.

Nenhum bosque verdejante cintila
na melancolia obscura que cerca a paisagem
onde o fio de baba do destino se esgota
no girar monótono das pás que degolam o vento.

É demasiado tarde para refazer o caminho.


O unicórnio negro atravessa a bruma
seguindo um rasto de cinzas na terra batida;
exalando um longo e atroz lamento
no coração do gelo que tinge o céu turvo
rente às margens onde se afogaram todos os sonhos.

É demasiado tarde para escolher outro caminho.

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11 comentários:

Hellen Caroline disse...

Olá,
ao ler teu poema não pude deixar de citar que me fez lembrar de um escrito de Marta:

Tarde demais é uma expressão cruel.
Tarde demais é uma hora morta.
Tarde demais é longe à beça.
Não é lá que devemos deixar
florescer nossas descobertas.
Martha Medeiros

Em outras palavras,que a expressão "tarde demais" se desfaça de seu vocabulário.
Bela Poesia!
Beijos

Lídia Borges disse...

Há uma dicotomia muito interessante entra a sombra e a luz... E a força de um caminho por definir.

L.B.

mfc disse...

O caminho é nosso e é nossa obrigação percorrê-lo.

Flor de Jasmim disse...

Runa
Triste e muito profundo!!! Mas muito sentido... sabes amigo eu penso que todos os caminhos vão dar a um lugar certo ou errado, mas existem e têm que ser percorridos com nossas caminhadas.
Adorei amigo.
Um beijo fraterno

Vera Lúcia disse...

Nunca é tarde para mudar a rota.
A escolha é sempre nossa. Ousadia é bom. Coragem, mais ainda.
Já te falei acerca de sua maneira de versar. É muito enigmática. Pelo menos para mim, que sou leiga em linguagem poética.
Abraço. Obrigada pela gentil visita.

Fernanda Ferreira - Ná disse...

Seria terrífico pensar que é tarde demais,
que nada mais resta a fazer...

Há sempre um raio de luz que surge da penumbra, assim acredito.

Obrigada pela visita.

Volte sempre.

Valeria Soares disse...

Não é tarde, se a vida continua!

Marilu disse...

Querida amiga, nunca é tarde demais para revertemos quaisquer situação é só querermos. Há sempre um novo amanhã para recomeçar. Beijocas

CF disse...

Amigo Runa
Este texto fez-me lembrar uma apresentação que vi há tempos sobre a evolução da Terra... um sitio árido, sem água e onde tudo está a morrer!!! Julgo que num contexto destes tanto podemos abrir para uma perspectiva mais macro, como micro, se olharmos para um interior de uma alma desesperada e deseperançada...
Recuso admitir a inexistência de outro caminho enquanto existir...
Esperemos que surjam mais alvoradas de sinos com mensagens de esperança

Unknown disse...

Peço imensa desculpa mas derivado aos problemas com o Bloger só hoje me foi possível chegar aqui.

Abraço.

Obs vou voltar mais vezes pois gostei do conteúdo.

Elis Cândido disse...

Runa
Chego a sentir a secura destas cinzas pradarias e os arrepios dos ventos gélidos em meu rosto. Muitas vezes galopamos feito este unicórnio negro, com negra alma, rumo a bruma que nos encanta e nos espera... Abraços.

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