terça-feira, 26 de outubro de 2010

Solstício de inverno



Ao fim do dia, a mente exausta
já só encontra palavras gastas
para seguir o declínio aparente
da derradeira luz que se extingue
num equinócio de primaveras corrompidas.

As pálpebras rangem
seguindo a cadência dos relógios
pendurados na monotonia das paredes,
num arrastado bocejo
à volta dos 12 signos do dia.

No hemisfério gélido das marés
a cinza derretida do luar
tinge veias rasgadas
de um caudal de anjos decapitados,
afundados
no estuário sombrio do meu voo.

O que resta de mim
é aquilo que a insónia do vento
deixou nos rebordos da pedra,
as longas noites de sombra
cobrindo a face do horizonte,
um ocaso de ruínas
engolindo meu corpo fatigado,
e interrompidas quimeras
de um solstício de moinhos petrificados.


poema escrito em 2010-10-17
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3 comentários:

alma disse...

Runa.

Esta viagem pelo interior, das horas rangentes que em tanto nos petrificam, é para quem lê o tudo numa parte.

bj

Mª João C.Martins disse...

Runa

No hemisfério gélido de cada maré, existe sempre um novo solstício que contém , por mais ínfima que seja, uma quimera que apenas foi interrompida.
Profundamente dorido este poema, numa linha que gosto muito!

Um beijinho

Daniele Dallavecchia disse...

Olá, poeta! A vida como ela não deveria ser...Por vezes, nos encontramos desgastados em nosso próprio caminho, onde um destino cego e desumano nos deixa à margem daquilo que nos contenta...Gosto de ler teus textos. Parabéns!

beijos

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