quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Rugas


Sinto-me a transformar na sombra de um outro eu
que emerge na febre das margens puídas,
onde um esgar de espelhos deformados
desenha os mapas de uma erosão vertiginosa.
Um arado de unhas encrespadas e frias
abate-se sobre as cearas do meu corpo,
rasgando o efémero vigor destas muralhas
contaminadas pelo orvalho corrompido do poente.

A sombra trémula de um manto de ruínas
obscurece a laje encardida do meu rosto,
onde o musgo velho da pele retraída
rumina o gelo de estranhas conspirações,
e o efémero brilho de uma frágil luz
ancorada num sonho de eterna juventude
se desfaz na penumbra crepuscular
de um eclipse de primaveras amputadas.

Sucessivas marés fustigam as falésias
com chicotes de lama e despojos de ventania,
deixando nos átrios devastados da rebentação
um labirinto de caminhos bifurcados,
onde o fulgor esbatido da minha face rasgada,
se perde na sombra disforme de um outro eu.


poema escrito em 2010-11-09
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4 comentários:

alma disse...

Runa,

O que olhamos no espelho dos outros e sentimos num desacerto tão real em nós.

Como sempre um momento para guardar.

bj

vieira calado disse...

Creio ser a minha 1ª visita.

Gostei francamente do que li.

Sudações poéticas

orvalhos poesia disse...

Nesta primeira visita, me encantou ler alguns poemas que ainda não tinha lido, mas na minha luta contra o tempo, este poema me disse tudo,
também eu me sinto tranformada na sombra dum outro eu.
LINDO!

Abraço forte

Mallika disse...

Rugas trofeus, premios da idade... que ninguém deseja.
Lindo.

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Abraço. Volta sempre.

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