Ocultas na ostra encerrada da infância
repousam as pérolas que o verão cuspiu
quando na boca tinha ainda todos os dentes.
Tudo se perdeu na farsa desta paisagem
envenenada pelo enxofre que o frio respira
para se alimentar da claridade que definha.
Todos os insondáveis nomes do inverno
que acumulámos durante o embalo do sono
sobrevoam os pátios de onde nos ausentámos
como barcos à deriva no mar deserto
a serem consumidos pelo feitiço das algas
numa vertigem de ferrugem e sinais inúteis.
Nenhuma voz é o som de um bater asas
que nos devolva o rasto dos trilhos perdidos
quando a névoa esmaga a luz das manhãs
e nos mapas inconsequentes da encruzilhada
buscamos uma ponte que atravesse o abismo
ou um deus que nos mostre outro caminho.
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