sábado, 21 de abril de 2012

Agrafia


Esqueci o começo deste poema
que compus em pensamento
e que tento, sem êxito,
estampar na nudez da folha,
atraiçoado pela tinta negra
que me mancha os dedos.

Lembro-me que falava de ti
e do desejo de te ter aqui
mas não sei que silabas inventar
para abraçar teu corpo distante
agora que a hesitação dos pulsos
encalha na inercia da memória
sublinhando o vazio da tua ausência.

Sob a luz baça do candeeiro
desenho um suspiro sem silabas
e em silêncio me deixo afundar
na erosão transparente do papel,
como uma maré que de súbito vazou
deixando a descoberto no areal
a caligrafia desfocada do teu rosto,

e até mesmo o final deste poema,
que compus em pensamento,
acabei também por esquecer.

_____________________________________________
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10 comentários:

mfc disse...

Um esquecimento sempre lembrado... tal como as nossas memórias!
Um equilíbrio muito lindo entre a recordação e o presente.

Sandra Subtil disse...

"Lembro-me que falava de ti
e do desejo de te ter aqui
mas não sei que silabas inventar
para abraçar teu corpo distante
agora que a hesitação dos pulsos
encalha na inercia da memória
sublinhando o vazio da tua ausência."

Isto é tão bom, tão bom, que até dói.
Bravo, meu amigo.
Beijinho

Anónimo disse...

Oi Runa,
Não importa o esquecimento e sim a lembrança vívida de um amor exuberante. Lindo demais!
Um abraço carinhoso
Gracita

Maria Emilia Moreira disse...

Que belo esse "esquecimento"!
Que belo esse amor, imortalizado neste poema.
Boa Semana!
M. Emília

Reinadi Sampaio disse...

E quando nos faltam palavras... Estamos no sublime
De um poderoso confronto
Rebuscando no passado e no presente
As palavras do futuro...
Na projeção dos sonhos nas palavras
No equilíbrio da realidade... De dois pólos...
Em um ‘poema que era para ser romântico’

Mas... É que as ‘palavras soberanas’, que ainda não foram escritas...
De uma escrita que ainda não foi lida, escreva-as para nós,
Porque ainda são... Só emoções sem forma literária...
(Fragmentos do meu poema "Palavras soberanas...")

Te abraço.
Flor.

Flor de Jasmim disse...

Não vou quebrar a magia destas tuas palavras!

Apenas te digo que mexeu comigo, comoveu-me demais.

Beijinho Runa e uma flor

Elis Cândido disse...

Hoje, dia em que nós brasileiros comemoramos o "descobrimento" do Brasil pelos Portugueses, passo por aqui para te deixar um abraço fraterno, de uma representante deste povo que é tão próximo ao teu... Hoje é um belo dia para lembrar de tudo o que de fato deve ser lembrado e esquecer todo o resto.

Elen de Moraes Kochman disse...

Runa,
Teu poema inspirou-me...

Melhor esquecer
O que não se pode gritar,
Triste engulir
O que não se pode dizer,
Porque desistir
Para calar
O que não se pode expressar,
É muito pior
Que deixar de amar
Para melhor viver...

Sol disse...

talvez tenhas esquecido por um tempo...
o tempo necessário pra que teus olhos se abram novamente..

bjs.Sol

Vera Celms disse...

Amado RUNA,

Ainda que não transcrevas aquele mesmo poema, o lembrar já é poema, já é canção... como é bom lembrar de alguem, cheio de saudade, cheio de emoção...
Quantas vezes não nos vem a inspiração e de repente se vai... sem deixar marcas no papel? criemos um outro e um outro...
Passei para uma visita... saudade da tua poesia... grande beijo de VC para vc...

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