sábado, 2 de julho de 2011

Imolámos um deus


Aquele que era esperado já chegou.
A estrela da manhã sopra a boa nova
nas asas radiantes do vento.
Concretizou-se o sonho de remotas gerações,
a promessa antiga dos profetas,
a derradeira esperança de sedentos e famintos.
Envolta na brancura do linho
chegou a luz que atravessou os desertos
para vir iluminar a escuridão;
aquele vem acender o fogo esquecido
e rasgar as mortalhas do frio,
com o sopro da verdade
e o calor que irradia.
Já chegou o pastor dos rebanhos tresmalhados,
a redenção das tribos dispersas,
abrindo novos caminhos no horizonte.

Rejubilam os céus num clamor infinito
que sacode a fragilidade pestilenta dos tronos.
De todo o lado se erguem multidões.
Dos desertos e das montanhas distantes
onde ecoou o rumor da sua chegada
um coro de oprimidos se agita,
uma nuvem de gentes ofegante
que galga as margens do rio,
num turbilhão de almas doentes
buscando curas e milagres.
Todos o querem ver.
Cegos, coxos e dementes,
leprosos e paralíticos,
toda a escumalha andrajosa e renegada
se dobra à sua passagem
abrindo os braços para o receber.
E a todos ele sacia,
distribuindo bênçãos e conforto,
repartindo o pão, o vinho
e a luz serena da sua glória.
Unge pecadores e réprobos,
devolve a visão aos cegos
e o andar aos paralíticos e entrevados,
resgata a vida aos que definham
nos braços de terra da morte,
apelando a uma força interior
que os homens ainda desconhecem.

Já chegou o enviado das alturas,
o Deus vivo da redenção,
o poema que lápis algum escreveu.
E nós, incapazes de conjugar o verbo amar,
enfeitiçados pelo mármore dos falsos deuses,
fariseus da ignorância e do egoísmo,
tudo aquilo que temos para o coroar
é o fel amargo e denso do nosso desdém,
o escárnio profano de um chicote de trevas
e a imolação num patíbulo sangrento.


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13 comentários:

Anónimo disse...

Runa!
Palmas a esse teu poema. Forte, lindo e verdadeiro.
Ele veio para os seus e os seus o rejeitaram. Veio um Deus para aliviar o peso espiritual e o povo esperava um rei para os libertarem da opressão política.
Aquele que nunca pecou, se fez pecado por nós, Cordeiro imolado e bode expiatório.
Morreu sem glória, sem honras e com a vergonha da cruz, somente para ladrões e malfeitores.
Viva teu poema que falou tudo!\o/
Beijokas e muita paz.

Carlota Pires Dacosta disse...

Sentido!
Verdadeiro!

Valeria Soares disse...

Fortíssimo!

Maria Alice Cerqueira disse...

Presado amigo Leitor boa noite
Vim pedir o seu voto para a minha poesia
Precisamos
Link da votação

http://ostra-da-poesia-as-perolas.blogspot.com/

para que o voto seja valido se votar no moral da poesia que fica abaixo das poesias, precisa fazer seu comentario deixar seu nome e seu link
desde ja lhe agradeço de tudo o coração
Tenha um lindo final de semana
Maria Alice
Bom dia amiga, vim agradecer a voce por sua linda presença no meu cantinho e fazer parte dos meus 200 seguidores! Venha pegar o selinho dos 200 seguidores que eu fiz com muito carinho. Tenha um lindo dia
Abraço amigo!
Maria Alice

José Sousa disse...

Oi querida Runa!
Mais um lindo post e desta vez sobre Jesus.

Tem um bom domingo e um beijo

CF disse...

Este texto toca a nossa religiosidade...talvez, mesmo o que não professem nenhuma, sintam o mesmo!
Tão poderosas e verdadeiras as tuas palavras...mas desta vez nem sei bem o que dizer! :)
Talvez porque tu digas tudo aquilo que sabemos que foi...terá sido mais?
Este texto, como muitos outros dos teus, merecia uma maior divulgação...seria bom que mais gente o lesse. Quiçá, promovesse a reflexão sobre o percurso que tem sido o da humanidade!!
Abraço e um bom domingo para ti

Sandra Subtil disse...

"Todos o querem ver"
Às vezes bastava senti-lo...
Beijo amigo

Flor de Jasmim disse...

Runa
Forte!!! Mas verdadeiro e sentido, muito actual estas tuas palavras.
Beijo

Reinadi Sampaio disse...

"Já chegou o enviado das alturas,
o Deus vivo da redenção,
o poema que lápis algum escreveu.
E nós, incapazes de conjugar o verbo amar,
enfeitiçados pelo mármore dos falsos deuses,
fariseus da ignorância e do egoísmo,
tudo aquilo que temos para o coroar
é o fel amargo e denso do nosso desdém,
o escárnio profano de um chicote de trevas
e a imolação num patíbulo sangrento".
Sabe Runa, é em um momento desses, quando um ‘lápis’, consegue vomitar tudo isso: que sentimos vergonha da nossa condição de seres humanos, e, que ainda arvoramos de fazermos parte dessa escória que somos diante DELE. ELE que nos fez à sua semelhança! E me pergunto onde estão os homens que ele CRIOU com tanto Amor!? E LHE retribuímos com o pior de nós mesmos. Em o “O assassinato de Cristo” Reich (1991), explora o significado da vida de Cristo e revela o flagelo universal que causou sua agonia e morte: a peste emocional da humanidade. É justamente este emocional desvirtuado no seu significado que deteriora aquilo que existe de bom na essência das relações com os nossos líderes e ídolos e que se pode preservar sem sacrificá-lo e aniquilá-lo. Para isso basta que tenhamos equilíbrio, em face dos nossos instintos primários.

Fico aqui refletindo com tuas palavras e te abraço, um abraço de ternura fraterna.
Flor.

Patrícia Pinna disse...

Boa tarde, poeta!Maravilhoso poema!Que verdade você passa sobre Jesus.Achei lindo o verso que diz:"O POEMA QUE LÁPIS ALGUM ESCREVEU".Concordo plenamente com você.Não tem muito o que dizer, pois já o dissestes!
Um grande beijo, fique com Deus, e excelente semana com muita paz!

Felipe. disse...

Oi, Runa, tudo bem?

Maravilhoso o teu poema e a tua habilidade com as palavras. Tens muito talento!

Parabéns pela sua composição.

Abraço.

Mara Santos disse...

Boa noite, Runa!
texto forte e reflexivo, gostei.
Beijo e ótima semana pra ti.
Com carinho,
Mara

Elis Cândido disse...

Runa

Impossível passar por aqui sem ser tocado pela força das sauas palavras... Desta vez você foi ABSOLUTAMENTE brilhante.
Boas férias, caro poeta em corpo de operário!!

Abraços

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