quarta-feira, 23 de março de 2011

Velha infância


Minha mãe invoca constantemente
imagens de uma velha infância,
como se se tratasse de uma vida anterior,
sepultada nas distantes orlas do tempo.
A sua própria infância.
Um palco secreto
povoado de rostos e lugares míticos
onde se abriga da monotonia do presente,
como se o tempo tivesse parado
quando dobrou a curva da adolescência,
e nenhuma outra vida a habitasse.

Enquanto divaga,
com o olhar perdido para lá da cerca,
remoendo relíquias de um tempo distante,
antes dos céus terem envelhecido
e o sol, em queda livre,
se precipitado nos abismos do poente;
vai fiando as memórias dispersas
de uma alvorada espoliada.

Movendo-se dentro da redoma frágil
desse mundo acabado,
– a menina que um dia foi,
espreita pelos postigos secretos de outrora
nos extintos jardins de uma inocência esbatida,
teimando em trazer o sol de maio
para o outono decrépito
que lhe queima as últimas folhas.

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15 comentários:

Algo meio Assim disse...

Por que será, que sempre quem tem a vivência insite tanto em nos comparar? tentam nos tornar, as vezes, o que não foram... as vezes as pessoas se prendem tanto no passado (que tiveram), que não enxergam que o futuro (delas), se tornou , nosso presente...
Reflexões... sempre reflexões!

Ana SSK disse...

Lembra-me tribalistas...

Mara Santos disse...

Que lindo!
Deixo pra ti.....

...
quando chegar aos 90
já sem força, sem futuro, sem idade
vou fazer uma festa de prazer
convidar todos que amei
registrar tudo que sei
e morrer de saudade."

Martha Medeiros

Beijo,
Mara

Rô... disse...

é muito complicado para algumas pessoas se desprenderem do passado...
são raizes muito profundas,plantadas em um peito cerrado,
que não admite invasores...
mas enfim...
respeito...é o que nos resta

boa noite

Sandra Subtil disse...

os dois últimos versos são de uma força avassaladora...
Beijo

Loiva disse...

Olá, obrigada pela visita em meu blog, adoro recebe-las, seu trabalho é lindo, acho que alcançar a melhor idade é atingir o ápice da sabedoria, espero muito que nós chegamos lá..bjs

Ana Cláudia disse...

Isso me faz pensar se eu fiz a curva da adolescência e acabei por levar minha vida como uma eterna saudade de dias passados...

Valeu a reflexão...

Beijos...

Moisés de Carvalho disse...

um poema soberbo , e duro...como pedra!

abraços!

Anónimo disse...

Runa,


Poema forte , de extrema profundidade e qualidade, como é seu poetar ...
Imagem e texto se completam e se tornam um só.

Belíssimo !


bjo.

Flor de Jasmim disse...

Runa Meu Amigo
Tem miminho no meu cantinho.

Poema forte que nos faz meditar, o passado seja ele qual fôr vamos ter que aprender a vive com ele. Adorei.
Beiji bom fim de semana

Anónimo disse...

Lindo poema.....Quem tem um passado para se sustentar , tem algo para seguir.

Rart og Grotesk disse...

Maravilhoso!!Belas palavras que nos fazem pensar em nosso tempo d infância.

bjs, bom fim de semana!

http://artegrotesca.blogspot.com

Fátima disse...

Essa história de voltar aos tempos de outrora
É para não deixar-se levar embora.
A memória tende a recordar!
É o viver na meninice, é uma eterna meiguice,
mesmo quando o tempo tenta nos roubar.
Quando eu ficar velhinha, eu quero ser a mais bela criança
só para minha filha me ninar.
E se eu tiver sorte
nos braços da morte eu vou poder sonhar.

Bjs
Com carinho
de uma rosa.
Rosa de Fátima

Elis Cândido disse...

Runa, gostei tanto de Velha Infância que tomei a liberdade de publicá-lo no meu blog... Vou continuar por aqui, enquanto lá fora escoa o meu tempo (...) Abraços sinceros.

Elís

Maze Oliver disse...

Runa, seus poemas são fortes e profundos. Refletem a pessoa forte que você deve ser! Obrigada por me seguir. Um abraço!

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Abraço. Volta sempre.

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