domingo, 1 de maio de 2016

No fundo da taça


nunca andei de avião
nem acariciei a brancura da neve
nunca passei uma noite num hotel
nem comi comida de hospital
nunca fiz voluntariado
nem tive cão algum
para ir passear a solidão
à noite pelas ruas desertas

nunca andei a cavalo
sem ser nos sonhos mais selvagens
nunca senti saudades
dos lugares que não conheci
nem esperei quem me levasse
pelo caminho certo
ou me desse um dia a provar
o aparato do júbilo

se segurasse a minha vida
numa mão fechada
e a espremesse gota a gota
para um copo de pé alto
quem seria capaz de reconhecer
a tonalidade púrpura dos sonhos
no líquido ralo e acre
depositado no fundo da taça?
______________________________________
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2 comentários:

Franciéle Romero Machado disse...

Muitas vezes nos perguntamos se estamos vivendo da forma que queremos, porque para alguns tais coisas são vividas....parece que tudo está no lugar. Para nós parece que algo falta, mas essa procura sempre vai estar presente embora muitas coisas já tenhamos conquistado ou vivido. Interessante a reflexão de seus versos, talvez eu sinta uma pitada de ironia em meio aos tantos sonhos e desejos. Abraços e tenha uma boa noite!

(postei um novo poema no blog, se quiser visitar-me)

Elen de Moraes Kochman disse...

Essa ânsia de viver, mas de estar com pés e mãos atados aos sonhos que nunca se realizam ou às cruéis realidades do nosso cotidiano, traz-nos uma dolorosa agonia por não conseguir acompanhar o tempo que galopa à nossa frente, sem jamais o alcançarmos.
Parabéns! Um poema que nos toca a alma e inquieta a nossa inércia.

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