domingo, 26 de agosto de 2012

Velhice


Todos os dias acordo num corpo antigo
cada vez mais longe de qualquer destino.
A distância que me separa do horizonte
é maior do que os passos que arrasto
num chão que desaba debaixo dos pés
enquanto sigo o futuro que se esgota
na sombra que se alonga nas dunas
como uma esponja sugando a claridade.

Sou agora um animal enrugado e pálido
a respirar a treva contaminada do poente
com os ombros desfigurados pela ruina
de quem segue o passo lento do cortejo
sem encontrar alento capaz de reverter
a traidora enfermidade destes órgãos;
dormência que embala no frio dos ossos
a cinza indecifrável dos últimos trilhos.

Há uma fogueira com o meu nome aceso
nas labaredas que desenham na paisagem
a sentença de um fogo que me chama
e nenhuma manhã é suficientemente clara
para iluminar o que resta do fôlego expirado
agora que devagar me aproximo da falésia
e me inclino sobre a vertigem do musgo
a contar as horas que faltam até ser dia.


Todos os dias acordo mais longe de mim
na febre de um corpo que já não sou eu.
Cada vez mais perto do lume.


___________________________________________
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10 comentários:

mfc disse...

O passar do tempo tratado na primeira pessoa e num poema que não nos deixa nada indiferentes!

Um abraço.

Reinadi Sampaio disse...

"Todos os dias acordo num "corpo antigo"
cada vez mais longe de qualquer destino."

Viejo cuerpo
Yo te soñé mar agitado
Mirando el mar a lo lejos
Como si no fuera el mar embravecido...
Golpeando en el pecho.

‘Viejo cuerpo...’
Sombreada luces de plata de luna!
__________________________________

Fiquei aqui, olhos embaciados,
No peito um aperto... e te pensei 'ontem'...
pulsante, vivo, um mar revolto na sua pelnitude... Assim vejo-te!

Te abraço.
Flor.

Reinadi Sampaio disse...

Voltei para te deixar um poema.

Tua frase"A distância que me separa do horizonte"... me inspirou...

Entre o nascer e o morrer... Momentos...



Entre o nascer e o morrer,
Como marionete do tempo,
Num carrossel louco,
Somos brisas num furacão
Agarrados a uma jangada,
Como navegadores solitários.

Entre o nascer e o morrer
O tempo não pára!
E a vida se funde e confunde,
Mescla-se de utopias e devaneios,
De realidades e assimetrias,
De créditos e débitos,
Ilustremente desenvolvidos pela sociedade...

E porque o tempo não pára,
O silêncio se instala
No rebuliço do viver,
Na agitação do dia a dia,
Como uma mortalha nos cobrindo...
Mas, O BRILHO NOS OLHOS,
O CORAÇÃO PALPITANTE,
O SANGUE CIRCULANDO NO CORPO
E O HORIZONTE, COMO META A ATINGIR,
MOSTRA QUE ESTAMOS VIVOS...

Entre o nascer e o morrer,
Entre o existir e o viver
Numa estrada sem fim,
No dançar da lua entre as estrelas,
Com a nossa sombra a caminhar
Num movimento mecânico,
Ancestral...
Atando a vontade na ponta da paixão,
Sonhando com uma aurora transcendental
Digna... Merecida... Abraçada...

O tempo não pára...

Porque a história entre o nascer e o morrer
Não se faz de grandes momentos...
Mas, sim, da beleza única de viver,
Profundamente, cada pequeno momento,
Cada segundo... Eternamente!

Nunca são grandes os grandes eventos...
Mas a beleza dos pormenores...
Não é a cara triste, é a lágrima no olho
NÃO É A CONFUSÃO DO VIVER,
É o peso do silêncio... Esmagador!
Entre o viver e o morrer... O fim ou não!
Nada intrigante –

Reinadi Sampaio
_____________
Te abraço.
Flor.

Flor de Jasmim disse...

É com as lágrimas a correrem que li e reli o teu poema, que me colocou um nó na garganta e um aperto muito grande em meu peito!
Tanta e triste verdade!
Entre o nascer e o morrer nossas vidas são colocadas à prova de muito turbilhão e muito sofrimento, que nos deixam memórias dolorosas, já as alegrias são recordadas com saudade.
Boa semana meu querido amigo.

Beijinho e uma flor

rosa-branca disse...

Olá Runa, o tempo nos trata com indiferença. A alma por vezes se afoga nas mágoas e a vida nos martiriza. O cansaço por vezes é maior que a vontade de viver, mas como dizia a minha avó...não se pode fazer a vontade ao corpo... Ela sabia o que dizia. Adorei o teu poema. Beijos com carinho

rosa-branca disse...

De um poema meu. Beijos

Passaram os dias, loucura
Não vi o tempo passar
Agora eu ando à procura
Dos dias para contar.

Sonhadora (Rosa Maria) disse...

Runa

Hoje não comento, venho falar de plágio...tens pelo menos um (mas deve haver mais) neste link:

http://betecigana.blogspot.pt/2012/07/silencio-do-teu-corpo-adormecido-e.html

É um blogue que vive de plágio, só poemas meus tem mais de 40, e da Malu do Infinito particular também, temos de nos unir para combater estas pessoas sem escrupúlos.

Um beijinho e desculpa
Sonhadora

Penélope disse...

Runa, fiz uma postagem do ocorrido porque não aguentei ver tamanho descaramento da FULANA. Se quiser de uma passada no INFINITO para ver como ficou e deixar lá sua indignação, pois sei que também ela o plagiou...
Abraços

Penélope disse...

Runa, amigo, ainda estou meio passada, pela atitude desta pessoa!!! Fico apertada de dor só de lembrar os sentimentos ruins que ela tem causado a muitas pessoas...
Meu marido me fez denunciar este ocorrido no google e espero que a Rosa Maria faça o mesmo, pois já seremos três.
Um grande abraço!

Unknown disse...

Palmas, muitas palmas.
]Beijos!!

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