domingo, 7 de agosto de 2011

A barca de Caronte



Em troca de uma moeda
posso conduzir qualquer um
à outra margem do rio.
Ricos ou pobres,
católicos ou judeus,
homens ou mulheres,
nada me importa
o que poderão ter sido um dia.
É este o meu destino.
Prometeu atado aos remos da penitência,
para trás e para a frente,
num interminável corrupio
seguindo o destino dos ventos.

Não me compadecem gritos nem choros,
não me peçam para retornar
forçando o leme e as velas;
a nenhum eu posso valer.
Os que estavam vivos
estão agora mortos
e o lugar da morte
é do outro lado da margem,
onde o silêncio ergueu catedrais
e a terra fervilha de ossadas frias;
onde todos os sonhos se esgotam
e todas as ilusões se afundam;
onde não existem horizontes
e tudo é coberto por um manto de nada,
sem luz a alumiar os caminhos;
onde já não há esperança
nem alivio,
e a ninguém é permitido respirar.

A troco de uma moeda,
um simples óbolo de níquel,
posso levar qualquer um
para o outro lado do rio.


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26 comentários:

Anónimo disse...

Que delícia saber que está de volta e a nos brindar com lindos poemas!

Um beijo imenso em seu coração Runa e um lindo início de semana para você!

Verinha

Rô... disse...

Runa,meu querido,
saudades,

é muito bom ler você,
que delicia de poema,
me senti atravessando esse rio,
na sua embarcação...
deliciosa viagem!

beijinhos

Anónimo disse...

Runa, você me fascina com esses poemas tão densos e que falam de coisas tão profundas quanto a morte. Arrepiei com essa descrição do Ades que fez:
"onde todos os sonhos se esgotam
e todas as ilusões se afundam;
onde não existem horizontes
e tudo é coberto por um manto de nada,
sem luz a alumiar os caminhos;
onde já não há esperança
nem alivio,
e a ninguém é permitido respirar."
Certeiro isso Runa! Parabéns.
Beijokas doces e eu estou com um blog novo, quando der me visite tá?

Telma Palma disse...

És capaz de ter razão =)

Fátima disse...

Voltou!!!!
Obaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa
E de barca e tudo!!!
Que bom!
Com carinho
e uma flor
rosa
de Fátima

Patrícia Pinna disse...

Runa, bom dia! Que bom que voltou! Espero que suas férias tenham sido boas, e que tenham dado para você descansar!
Obrigada pelo seu carinhoso comentário em "PÁSSARO APRISIONADO", fiquei muito feliz ao lê-lo.
Quanto a sua postagem, excelente como sempre,porém para mim, assustadora! Cheguei a me arrepiar com a descrição, e com o fato em si! Não quero chegar ao outro lado do rio nem tão cedo, espero em Deus que Ele me conceda essa graça, assim como para o meu filho e as pessoas que amo. Você, meu amigo poeta, que nem tão cedo faça essa travessia!
Beijo grande, fique com Deus!
Te espero sempre!

Reinadi Sampaio disse...

Ontem ao ler teu poema fui 'sacudida' por tuas palavras, mesmo conhecendo a realidade que nos cerca (descaso com relação à vida, ao ser humano).
Teus versos finais:

"A troco de uma moeda,
Um simples óbolo de níquel,
Posso levar qualquer um
Para o outro lado do rio."

Deixa bem claro o nível dos valores deturpados, qualquer irrisória quantia
- Vale até mais que vida de um ser humano -

Meu amigo, meu irmão, bom ver-te chegar!
Te abraço, num grande abraço fraterno de boas vindas.
Flor

marlene edir severino disse...

Belo poema!

Mas por agora, dispenso esse barqueiro.

Um abraço!

Marlene

CF disse...

Olá Runa
sejas bem vindo. Verifico que a tua prole de insaciáveis roedores não te roeram a imaginação e a criatividade...lolol
Adoro mitologia grega e vejo que tu tb. :)
Mas, amigo fiquemo-nos apenas na mitologia e nas palavras que tão bem sabes urdir...
Quanto à outra margem, ainda não voltou ninguém para contar como é e eu prefiro imaginá-la bem diferente da da mitologia...lol
Abraço
PS: fico feliz com o teu regresso embora (confesso) esperava mais sol por estes lados depois de umas férias :)

Sonia Pallone disse...

Parabéns pelo belíssimo texto, repleto de expressões...

mfc disse...

Esta é a história triste do Tempo e da Morte... muito bem tratada nos teus versos.

Penélope disse...

E assim vão sendo feitas as passagens...
Uma alegoria perfeita que não preconiza raça, credo ou qualquer outra coisa...



Olha passei para lhe indicar um link agregador que achei muito bom.
Estou falando do www.superlinks.blog.br.
Você vai poder divulgar suas páginas, pois os critérios deste site são sérios e vale a pena conhecer e suas páginas possuem excelentes postagens.
Um grande abraços..

Anónimo disse...

Magistral amigo, um lindíssimo poema onde falas como muita maestria sobre a morte. A P L A U S O S! ! !

rosa-branca disse...

Olá amigo, onde andaste nestas férias para trazeres um poema tão sinistro? A morte faz parte da vida, mas ninguém ousa gostar dela. Possivelmente não se gosta do que não se conhece...eu por enquanto não quero fazer a travessia mas se assim estiver destinado que seja.
Gostei do poema. Beijos com carinho

MARILENE disse...

Do outro lado, somos todos iguais. E até para essa "travessia" alguém ainda se dispõe a lucrar, aproveitando-se da ausência de sonhos, do sofrimento de quem deste lado está.

Bem vindo!!!!!
Bjs.

CF disse...

Volto para dizer-te que deves ler o livro...qd o começares vais ler de um só fôlego...depois diz-me!
Tb vais encontrar um rio que leva e nunca mais traz...um artesão da casta "inferior" dos intocáveis que é um Deus...aquele que fabrica sonhos, mas que para ele são só pesadelos!
E mais não digo! :)
Abraço

Mara Santos disse...

Boa noite, Runa1
Muito bom te ver de volta e compartilhando belos poemas.
Esse arrasou....gostei muito.
beijo,
Mara

Flor de Jasmim disse...

Runa meu amigo
Bem vindo ao mundo virtual!!!
Voltaste com mais um ooema triste, mas verdadeiro, afinal ninguém gosta da morte, mas todo o ser vivo tem de morrer.
Beijinho boa semana

Elis Cândido disse...

Parece que as tuas férias te deixaram ainda mais afiado!! Já leu um livro chamado "A Menina que Roubava Livros"? É uma história maravilhosa, narrada pela própria morte. Eu li e recomendo. Este livro me inspirou a escrever alguns poemas... Bom você estar de volta! Abraços sempre.

Anónimo disse...

Parabéns por poetizar a brilhante obra "Divina Comédia de Dante" (O Círculo do Inferno)!

Você retrata uma realidade bastante democrática, onde qualquer pessoa pode ser morta por tão míseros trocados.

Beijos,

Tétis disse...

Olá Runa

Um belíssimo poema.

O tema da morte tratado duma forma fascinante, com alguma crueza mas de grande beleza.

Um poema dum Mestre da poesia, dum "malabarista" das palavras.

Parabéns.

Beijinhos

Patrícia Pinna disse...

Runa, boa tarde.Espero duas coisas:que você poste logo para eu ver que belo poema será, seja em qualquer sentido, e que você apareça logo no meu cantinho.Amo comentários sinceros!
Um excelente fim de semana para você!
Um beijo, e fique com Deus!

OBS:ANTES DE TUDO, ESPERO QUE VOCÊ E SUA FAMÍLIA ESTEJAM BEM!!!!!!!!!!!!!!!!

Roselia Bezerra disse...

Olá, querida
E nessa irmandade vamos vivendo...
E que sejamos abençoados e felizes!!!
Bjs fraternos de paz

Unknown disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Unknown disse...

Runa,

Bom tê-lo de volta aqui e ler teus poemas que são densos e profundos no transitar entre Eros e Thanatos.


Forte abraço,

Anna Amorim

P.S: Convido a conhecer meu nosso espaço
http://anafariaspsicologa.blogspot.com/

Mallika disse...

Como sempre maravilhosas letras de emoção bafejam meu coração ao lê tuas poesias. Obrigada.

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Abraço. Volta sempre.

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