domingo, 14 de outubro de 2012

No fim da terra


Aqui onde a terra acaba
aos pés de um mar salgado e decrépito
vive uma raça de gente vergada
aos despojos da rebentação
gente que caminha junto às margens
a decifrar num areal silencioso
o mistério da mudez dos búzios
e dos sonhos que no horizonte se perderam

Aqui neste retângulo de areia
onde já não brilha a luz do farol
e os barcos se quedam no cais
ancorados numa agonia enferrujada
vive a esperança que definha
nos vultos que se debruçam ao relento
sobre a espuma inquinada da memória
vergados pela exaustão do medo

Aqui neste outono encurralado
a sul de nenhum norte
onde os dias se dispersam pelo vento
e os cavalos continuam perdidos no nevoeiro
sem cavaleiro
sem ninguém que agite o fulgor das bandeiras
e rasgue com a luz do facho reacendido
o caminho que as sombras toldaram

vive a gente que não teme a morte
nem a ameaça da espada infiel
e que herdou dos sonhos e dos deuses
a glória de um destino maior
porque aqui onde é o fim da terra
e o mar mergulha no azul profundo
um dia há de ser novamente
o princípio de um outro futuro.

_________________________________________
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7 comentários:

Maria Emilia Moreira disse...

Que esse dia "de outro futuro" chegue o mais breve possível,pois estamos todos a ficar desesperados. Gostei muito do poema e da sua actualidade. Abraços.
M. Emília

Reinadi Sampaio disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Flor de Jasmim disse...

excelente a forma que consegues transmitir o teu grito de revolta!
Um poema que transmite a dor da realidade em que vivemos.
Boa semana amigo Runa

Beijinho e uma flor

Emília Pinto disse...

É um grito este teu poema que poderia ser um grito de todos nós; andamos cansados e cada dia com menos esperança; até os dias andam tristes com a chegada do Outono e anucio do Inverno. Esperamos o sol todos os dias, mesmo sabenso que não irá aprecer tanta vezes. Até ele desanima!!! Beijinhos e parabéns
Emília

Lúcia Bezerra de Paiva disse...

Importante dizer que, no fim da terra, haverá um recomeço...quero crer!
Belíssimo poema!
Um abraço, Ruma,
da Lúcia

Patrícia Pinna disse...

Bom dia, Runa. Apesar de estarmos sumidos, não posso deixar de prestigiar o seu talento.
Tem um prêmio pra você na minha atual postagem. Por favor, leia!
Depois volto para comentar!
Beijos na alma!
Paz!

Elis Cândido disse...

Eu fico aqui nesta terra, olhando o azul do mar e esperando o princípio deste novo futuro chegar para mim também...

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