segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Fantasmas da memória


Os fantasmas da memória
chegam com os olhos inchados
e um sol encolhido
na palma enrugada das mãos,
como quem sai precipitadamente
das páginas de um livro já lido,
recuperando uma visão adormecida.
Incapazes de se resignarem
às fronteiras do esquecimento
batem com os pés na poeira do chão
reacendendo as cinzas de uma fogueira
que não se extinguiu ainda.
Com o giz branco da saudade
desenham nas paredes
um rosto que não pode ser apagado
pelas águas que a chuva devolve
nem pelo arrastar mórbido dos dias
enquanto caminham em silêncio
por entre as cortinas do vento
sem revelar por onde têm andado,
o que têm feito para resistir ao tempo,
e os secretos caminhos trilhados
do outro lado dos espelhos.
Presos a uma imagem que vou desfiando
com as unhas baças de raspar o vazio
renascem subitamente
de uma voz que se acende no escuro,
das frestas de uma janela mal fechada,
de um túnel sem luz ao fundo,
do nada onde se escondem
à espera de serem recordados.

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7 comentários:

Luna disse...

nada facil fecharmos os olhos aos fantasmas do tempo
bjs

rosa-branca disse...

Quem dera poder fechar os olhos e apagar os fantasmas que nos seguem...ou somos nós que seguimos e os trazemos em nós... recordações do passado que perduram. Lindo e sofrido poema. Beijos com carinho

FlorAlpina disse...

É bom afastar alguns fantasmas "de" tempo e encontrar esta escrita encantada como sempre!

Bjs dos Alpes

Mara Santos disse...

Os fantasmas da memória insistem em me acompanhar....Pensei que eles haviam ficado no Brasil....Luto contra eles, mas não é fácil.
Mesmo assim, gostei muito do que li aqui.
Bj

Rô... disse...

oi meu amigo,

esses fantasmas parece que necessitam de companhia,
cabe a nós deixarmos eles trancados no passado,e tentar viver o presente com leveza...

beijinhos

Reinadi Sampaio disse...

Oi, Runa,

Ler-te é sempre uma emoção sem igual,
Até os teus "Fantasmas da memória"... São ditos de uma forma especial...
Cabe a cada um decidir a forma mais ou menos saudável
De aceitar a coabitação desses fantasmas na memória...
Para que, o que vale a pena,
Ser vivido... E preservado
Seja mantido na memória
Do coração e da alma
Mantendo vivos sentimentos
E emoções puras e intensas...

Te abraço.

Flor de Jasmim disse...

Os fantasmas quando acompanhados pela dor são os que mais dificuldade nos transmitem de os abandonar, temos que os saber acompanhar, não é facil.

Beijinho e uma flor

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