Francisco caminha em silêncio.
o chão foge-lhe debaixo dos pés.
invade-o uma tristeza súbita.
uma aterradora presença que flutua
sob a atmosfera saturada.
Francisco caminha sem levantar o rosto.
anjo branco que se arrasta
por dentro de uma visão aterradora.
os olhos postos no chão recordam
aquilo que o tempo não apaga
e nenhuma linguagem pode expressar.
este é um lugar de horror.
círculo fechado onde a memória
ainda tão nítida e sufocante
continua a dilacerar a carne.
as ruas nunca estão desertas.
uma longa fila fantasma atravessa-as
ininterruptamente
numa dolorosa expiação que se estende
para lá do muro da morte.
Francisco caminha contra a corrente.
à sua volta tudo estremece.
tudo parece gemer em surdina
como um queixume que se propaga.
pequenos ecos de uma litania cruel
que jamais se hão de extinguir.
Francisco leva as mãos ao rosto
e chora profundamente.
como quem pronuncia uma prece
ou se tenta libertar de uma dor invisível.
hoje
e em dias como este
assalta-o a inconsolável vergonha
de também ser homem.
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5 comentários:
Runa,
Teu poema reflete toda a dor, de um homem envergonhado, que chorou e orou silêncio.
Abraço-te.
Sinto saudades dos seus comentarios no meu blog
feliz te deixa meu carinho abraço.
Evanir.
Perfeito! Como sempre...
Grande abraço!
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