Um homem sentado debaixo do alpendre
mergulha numa estranha abstração
enquanto espreita o interior de uma ânfora
onde a soma dos dias ali depositados
é igual à distância até agora percorrida
pela sombra que lhe escurece os passos.
E não consegue apartar-se dessa visão.
Como um cordão umbilical que o prende
a um delírio que flui de fora para dentro.
Uma névoa a ofuscar o acrílico da retina.
Um túnel profundo e a perder de vista
onde se transvia em busca de uma luz.
E tudo aquilo que vê nessa transparência
que reveste o fundo argiloso da memória
são os presságios que a ventania juntou
após correr a solidão branca dos trilhos.
A curva onde se cruzam todos os limites
de uma claustrofobia inacabada e futura.
As cores com que se acendem as noites.
Coisas que nunca haveremos de saber.
_________________________________________
1 comentário:
Tantas coisas poder-se-ia dizer do teu poema, no entanto, uma palavra o definiria: destino, uma das coisas que nunca haveremos de saber.
Enviar um comentário
Obrigado pela visita. Se puderes, deixa uma mensagem.
Abraço. Volta sempre.
Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.