I
Frente a um espelho de prata
uma mulher contempla seu rosto.
O mais belo entre os mais belos.
Não é ainda a pompa e o mito
que o tempo há de amadurecer.
Apenas um rosto jovem e radiante.
Uma joia que chega pela manhã
envolta na transparência do linho.
Como o sol que desponta
incendiando o rebordo das dunas.
II
Um coro de jovens e formosas virgens
entoa cânticos de júbilo.
Um hino a anunciar um recomeço.
Um ciclo de glória e redenção.
Retinem sistros de prata
flautas e harpas de doze cordas.
A casa está de novo iluminada.
Uma nuvem de incenso ergue-se
como um obelisco perfumado
espargindo a boa-nova.
III
Abrem-se as portas do templo
para receber aquela que veio.
Ungida pelas águas do rio
e coroada pelos sete raios solares
chega numa liteira dourada
coberta por um véu diáfano.
Uma coluna de escravos negros
transporta-a no alto dos braços
e com suaves e ritmados movimentos
aos pés do trono a depõem.
IV
Dezoito dias duram os festejos
dentro das muralhas da cidade.
O tempo que a tradição reclama
para que se cumpram todos os presságios.
São invocadas as deusas da fertilidade.
Ritos que reproduzem movimentos cósmicos
e garantem a ancestral harmonia
com os mundos ocultos e superiores.
As luzes que agora se acendem
irão arder toda a noite.
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