sexta-feira, 30 de outubro de 2015

Finisterra


o caminho é daqueles que o atravessam
pequenos passos que chegam de longe
trazendo um ritual de sede e poeira
a errância que nos ossos alastra
a sedução longínqua de velhos sinos

às vezes é só a chuva que os acompanha
a ilusão que traça itinerários
o cajado onde a vontade se ampara
para que a distância se possa medir
e passo a passo sigam adiante

não vêm de parte alguma
nem traçaram qualquer destino
nada semeiam na gravilha das margens
orientam-se pelo sentido dos ventos
envoltos num rumor anónimo

na mochila trazem somente o essencial
o dialeto intermitente da fé
sinais breves que os resgatam
quando os pés se afundam na lama
e o equilíbrio mais uma vez se desfaz

todas as moradas são possíveis
para esta viagem sem regresso
mas nenhum albergue os poderá reter
mais que o lapso de um bater de pálpebras
uma trégua para o corpo gasto pela febre

o caminho ensina e incita
desfaz os nós meticulosos do tempo
antes que o sol se debruce sobre as águas
e o mar finalmente abra suas portas
quando chegarem ao fim da terra

lugar onde tudo recomeça

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sexta-feira, 25 de setembro de 2015

Claridade


no teu olhar errante
acende-se a primeira pedra
do templo por construir
a primeira palavra do poema
que fará dançar no horizonte
a bailarina azul do vento

com a subida súbita da maré
cresce na espuma do teu sorriso
a pronúncia translúcida do mar
o canto secreto das sereias
a tecer junto ao peito
a flor deslumbrada do fogo

será mais clara a noite
se me deres agora a mão?

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sábado, 14 de março de 2015

Tudo o que eu queria era um verso


tudo o que eu queria era um verso
que me servisse de leme
e guiasse através da névoa
que fosse luz de farol e porto de abrigo
um atalho na fúria da rebentação
espuma branca estendida na areia

um verso que tivesse o brilho das estrelas
e caminhasse do lado do vento
rompendo o frio e a distância
em direção ao azul do mar

que fosse espelho de águas cristalinas
e me servisse de rosto e máscara
pedra lisa na poeira dos caminhos
rumor de sonhos no silencio dos dias
tudo o que eu queria era um verso

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quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

Atração


Será o acaso ou as leis irreversíveis do destino
quem separa ou volta a unir duas almas
que palmilharam os sete trilhos do mundo
para se encontrarem um dia por acaso
onde não era suposto isso acontecer?
Que estranhas forças impulsionam os mecanismos
deste carrossel que desenha na terra batida
os sinuosos percursos do tempo que se move?
Com que asas voam os pássaros na direção do sol
alimentando um sonho que cresceu com a distância?
E o vento, saberá os caminhos ermos da montanha
se não se acenderem fogueiras azuis no horizonte?
Levantar-se-á alguma cidade mágica
nas traseiras da feira abandonada
quando duas solidões finalmente se atraírem?
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