Acordo subitamente de um sonho denso
com a boca a saber-me a cinza fumegante
e os níveis de alcatrão e nicotina no sangue
perigosamente abaixo dos mínimos permitidos.
Como um frémito que me tolda os sentidos
todos os alarmes soam ao fundo do corredor
onde os demónios da tentação rastejam
afiando as garras de encontro à porta.
Enrolo os dedos na mortalha branca do lençol
com vontade de me levantar e desistir, mas
fecho os olhos, e sonho com casas incendiadas.
Há sete dias que não fumo qualquer cigarro.
Incapaz de saborear o prazer do primeiro café
arrasto-me na solidão da manhã, e me interrogo:
se a resistência será um ato heroico e descomunal
ou apenas o início de um novo ciclo de terror?
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