segunda-feira, 20 de maio de 2013

Dentro do poema


sento-me aqui
à sombra desta miragem
a acariciar as letras do teu nome
a revolver as palavras
que a insónia me sussurra
enquanto a tua imagem desliza
abrindo vagarosos trilhos
por entre o marulhar das águas
na dormência da memória

é apenas um solitário jogo
que a imaginação tece
um segredo de tinta coada
a expurgar da brancura da folha
a inércia da tua ausência
a rasurada esperança
de que um simples verso te anuncie
ou traga de novo
a luz que o verão esgotou

gestos que vou ensaiando
com o aparo persistente da lapiseira
até sucumbir à febre do desejo
e sílaba a sílaba
reconstruir o néctar do teu rosto
até que o papel se incendeie
aveludado e liso
como um espelho iluminado
e só o reflexo do amor caiba
dentro do poema


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quarta-feira, 8 de maio de 2013

Equilíbrio


Um homem segue seu caminho
temendo não vislumbrar um fim.
Sabe que, a qualquer altura
sob os pés que resvalam
um alçapão se irá abrir.

Um homem caminha
como quem se afoga.
Em queda livre.
Sempre a descer.
Não existe terra firme
neste néon vago e profundo.

Como se as águas
se tivessem retirado com a maré
e deixassem a descoberto
uma cidade enterrada no lodo.

É difícil manter o equilíbrio.


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