A cor desfigurada das manhãs
assume tonalidades de um plástico baço
sacudido pelas engrenagens do frio
e todos perguntam pela luz do sol
sabendo que é só uma memória esbatida,
uma missanga que se esconde no horizonte
corrompida pelo fascínio da sombra
Um presságio atravessa a esteira gasta
onde as mulheres ergueram rezas e feitiços
invocando um alívio que nunca chegou
e todos perguntam pelo fim da noite
sabendo que nenhum deus os escuta
e os céus permanecem acorrentados
à caligem de uma paisagem alcatroada
Banidos de uma sina anunciada pelos profetas
os homens procuram no fundo dos poços
um reflexo que os liberte do abraço do breu
e todos os dias aos oráculos perguntam
com os olhos vidrados pelo desamparo
quem foi que derramou no azul da tela
a cor desfigurada das manhãs
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3 comentários:
oi Runa,
lindo,
o reflexo dourado das manhãs,
pode esconder o azul vibrante,
mas nada como essa mistura misteriosa para inspirar poetas
como você...
beijinhos
O mar nos teus olhos... pintar quisera, para que não visses a cor desfigurada das manhãs.
Pega, é teu.
'O mar nos teus olhos’ pintar quisera
(Rondó francês)
O mar nos teus olhos... Pintar quisera –
Para enxergar-te em noites de quimera
Ah! Toda vez mar, que o mar eu mirasse
Vislumbraria entre as vagas tua face!
No azul mar a ondular na primavera
Uma borboleta, busca-te ao luar,
Teu reflexo entrevê... Põe-se a voar
E suas asas sussurram em uníssono:
– o mar nos teus olho’... Pintar quisera –
– Faróis que alumiam minha estrada –
Quando voejo, entre ondas, em revoada
Nas noites das inspirações singelas
Entre nuvens, com asas de aquarelas...:
– Príncipe, em qualquer cor azulejada –
–‘O mar nos teus olhos... Pintar quisera –
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