Esqueci o começo deste poema
que compus em pensamento
e que tento, sem êxito,
estampar na nudez da folha,
atraiçoado pela tinta negra
que me mancha os dedos.
Lembro-me que falava de ti
e do desejo de te ter aqui
mas não sei que silabas inventar
para abraçar teu corpo distante
agora que a hesitação dos pulsos
encalha na inercia da memória
sublinhando o vazio da tua ausência.
Sob a luz baça do candeeiro
desenho um suspiro sem silabas
e em silêncio me deixo afundar
na erosão transparente do papel,
como uma maré que de súbito vazou
deixando a descoberto no areal
a caligrafia desfocada do teu rosto,
e até mesmo o final deste poema,
que compus em pensamento,
acabei também por esquecer.
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10 comentários:
Um esquecimento sempre lembrado... tal como as nossas memórias!
Um equilíbrio muito lindo entre a recordação e o presente.
"Lembro-me que falava de ti
e do desejo de te ter aqui
mas não sei que silabas inventar
para abraçar teu corpo distante
agora que a hesitação dos pulsos
encalha na inercia da memória
sublinhando o vazio da tua ausência."
Isto é tão bom, tão bom, que até dói.
Bravo, meu amigo.
Beijinho
Oi Runa,
Não importa o esquecimento e sim a lembrança vívida de um amor exuberante. Lindo demais!
Um abraço carinhoso
Gracita
Que belo esse "esquecimento"!
Que belo esse amor, imortalizado neste poema.
Boa Semana!
M. Emília
E quando nos faltam palavras... Estamos no sublime
De um poderoso confronto
Rebuscando no passado e no presente
As palavras do futuro...
Na projeção dos sonhos nas palavras
No equilíbrio da realidade... De dois pólos...
Em um ‘poema que era para ser romântico’
Mas... É que as ‘palavras soberanas’, que ainda não foram escritas...
De uma escrita que ainda não foi lida, escreva-as para nós,
Porque ainda são... Só emoções sem forma literária...
(Fragmentos do meu poema "Palavras soberanas...")
Te abraço.
Flor.
Não vou quebrar a magia destas tuas palavras!
Apenas te digo que mexeu comigo, comoveu-me demais.
Beijinho Runa e uma flor
Hoje, dia em que nós brasileiros comemoramos o "descobrimento" do Brasil pelos Portugueses, passo por aqui para te deixar um abraço fraterno, de uma representante deste povo que é tão próximo ao teu... Hoje é um belo dia para lembrar de tudo o que de fato deve ser lembrado e esquecer todo o resto.
Runa,
Teu poema inspirou-me...
Melhor esquecer
O que não se pode gritar,
Triste engulir
O que não se pode dizer,
Porque desistir
Para calar
O que não se pode expressar,
É muito pior
Que deixar de amar
Para melhor viver...
talvez tenhas esquecido por um tempo...
o tempo necessário pra que teus olhos se abram novamente..
bjs.Sol
Amado RUNA,
Ainda que não transcrevas aquele mesmo poema, o lembrar já é poema, já é canção... como é bom lembrar de alguem, cheio de saudade, cheio de emoção...
Quantas vezes não nos vem a inspiração e de repente se vai... sem deixar marcas no papel? criemos um outro e um outro...
Passei para uma visita... saudade da tua poesia... grande beijo de VC para vc...
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