Peguei nos meus melhores poemas
dispersos por um monte de cadernos
de capa negra e folhas amarrotadas
e durante três dias e três noites
sem desviar os dedos do teclado
datilografei-os no processador de texto.
Depois enviei-os para um site
que promete fazer de qualquer principiante
um escritor de repentino sucesso
e recebi-os na volta do correio duas semanas depois
em formato impresso, devidamente encadernados
com capas que eu próprio desenhei.
Um processo rápido e simples
sem perguntas ou condições
sem páginas rasuradas nem textos reprovados.
O que enviei em ficheiro foi o que recebi em livro.
O único senão em todo o processo
foi a estranha sensação com que fiquei
ao ver-me a comprar os meus próprios livros.
Durante mais de uma semana
tive-os em cima da mesa-de-cabeceira
como um troféu de guerra
ou um tesouro de incalculável valor.
À noite desfolhava-os vagamente
lendo uma página por outra
digerindo lentamente o sonho concretizado.
Até que chegou a hora de os guardar na estante
na prateleira dedicada à poesia
entre o Nuno Júdice e o José Jorge Letria
empurrando para os lados
o Manuel Alegre e o Joaquim Pessoa
que esboçaram um ligeiro protesto
mas acabaram por encolher os ombros
e se apertarem mais ainda contra as paredes.
Na mesma prateleira onde se perfilam
as memórias de Al Berto, Jorge de Sena,
José Gomes Ferreira e até do outro Pessoa,
o Fernando, mais a sua miríade de reflexos.
Onde também há lugar para os mais novos
tais como: José Carlos Barros,
José Miguel Silva, Rui Pires Cabral,
Jorge Gomes Miranda e José Mário Silva,
entre outros, todos demasiado ocupados
a olhar para o seu próprio umbigo,
para me virem saudar ou sequer dar pela intromissão.
Eu é que não me preocupo nada com isso
pois sinto-me muito bem ali ao lado deles
a gozar o meu inesperado estrelato.
(*) - Edição de autor é uma publicação cujo custo é sustentado pelo próprio autor. Tal pode dever-se tanto a incapacidade de encontrar uma editora que invista no autor, como a uma política de liberdade editorial, apreciada por alguns artistas.
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16 comentários:
Pois sim, mas pelo menos está ao lado de grandes tantos outros autores...
Todo escritor é um estrela que brilha senão no céu, dentro de cada um de nós...
Adorei o texto.
Abraços
Amei o seu relato poético. Esses grandes entre os quais se colocou começaram pequenos e muitos deles só foram por nós conhecidos depois que não faziam parte de nosso mundo. Você se igualou, pois na estante, ficam uns ao lado dos outros, cabendo a quem vai ler, a opção, a escolha.
Bjs.
Parabéns por essa edicão de Autor.
Onde a podemos encontrar?!
... na Fnac?!
Boa tarde, Runa.Você é totalmente merecedor, e eu fico sinceramente muito feliz por você.Parabéns, e muito sucesso!
Que o seu iniciante caminho em forma de publicação, traga-te muita felicidade, sabedoria, e conhecimento, com a humildade sempre dentro do seu nobre ser!
SUCESSO!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
Beijo grande, e fique com Deus!
eu gosto do que escreves e seguramente que venderás os teus livros se te decidires a apresentá-los em qualquer lugar.
no entanto é bem verdade que os Grandes só foram reconhecidos depois que deixaram de pertencer a este mundo e desde então viverão para sempre...
é de alguma maneira injusto, mas... é assim!
que tal encontrares um espaço, passares um convite via blog e apresentares a tua obra?!
quem sabe, seja um sucesso!?
saber-te-á muito melhor :))
abraço e sorte [ou muita merda, como se diz no teatro]
Runa
Lindo!!! Adorei ler.
Sabes Runa os grandes escritores, poetas, musicos e muitos outros que se classsificam com grandes artes só depois de não fazerem parte dos vivos é que lhes dão o devido valor,faz parte deste mundo de hipocresia.
Beijo bom Domingo
Olá, Runa
Gostei desta forma poética de apresentares a situação. Aproveita o teu blog e faz a promoção do teu livro.Insere aqui a imagem. Ofereço-me para divulgar o livro no meu blog, postando-a (selo). Contacta os seguidores e diz-lhes que tens um livro editado. Se o colocares numa livraria ou ponto de venda físico, digo-te já que adquiro um exemplar.
Boa sorte.
Abraço
Olinda
Olá Runa
Li por acaso o comentário da Olinda e subscrevo-o...estava a pensar exactamente nisso ao ler o teu texto...que eu como tua seguidora faria questão de divulgar o teu projecto, pois como já disse algures por aqui, a tua escrita merece-o...boa demais para ser guardada numa gaveta!
Além disso, quem ler tb o merecerá pois ficará mais rico...
Amigo, a coragem que demonstras na escrita e no facto de te colocares ao lado dos "grandes" só merece ser aplaudida...Grande é aquele que chega aos outros com aquilo que escreve e pelo que me é dado ver, neste espaço..tu és Grande :)
Abraço
Ser um escritor, é viver constantemente ansioso, pois nunca se sabe, a repercussão do trabalho.
Obrigada, pelo comentário em meu blog.
E desde de já, ti sigo também.
Beijos.
lindo o poema, gostei bastante, parabéns!
sua poesia é fascinante
Runa,
Quero um livro seu. Poderia me mandar pelo correio?
Te mando o endereço por email.
Como poderia pagá-lo?
Espero resposta. Pode enviar por email.
Beijos,
Anna Amorim
Meu amigo Runa!
Depois de uma temporada de trabalho com na realizações de festas, cá estou eu já com menos trabalho e com mais disponibilidade para o que gosto que são os meus blogues e seguidores.
Gostei deste poema que fala da edição de seu livro! Muito bom mesmo e os meus parabéns!
Um grande abraço.
Olha que bem: para já...muito bem escrito, sim senhor...
Em segundo lugar, pareces dar resposta às minhas dúvidas. Tenho pensado em publicar alguns poemas; porém não estou a "ver" nenhuma editora "apostar numa desconhecida...."
Como se faz?
Um bj
Obrigada.
BShell
Runa,
Espero tua resposta, ok?
Ótimo início de semana!
Abraços,
Anna Amorim
Realismo puro. Também publiquei um livro e passei pelas agruras relacioanadas a todo processo. Abraço fraterno, Helio Rocca.
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