Uma menina sorri e salta à corda
sem nunca perder o equilíbrio
ignorando que há muito já morreu
e que é apenas um oxidado reflexo
que velhos espelhos continuam a devolver.
Tem as feições obscurecidas pelos anos
e pelos ventos que atravessaram
os muros brancos de um quintal extinto
mas não perdeu a infantil vocação
de quem sabe as fórmulas de burlar o tempo.
Descalça e imune às caricias do gelo
levanta repetidamente os pés do chão
enfeitiçada pela luz que a tarde eternizou
sempre que a corda desenha no ar
a cadência febril da sua elipse.
E enquanto houver quem seja capaz
de alimentar o rastilho desse movimento
não deixará nunca de pular sobre a corda
nem de ser a menina que sorri
ignorando qualquer memória da morte.
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