As sombras marcadas com o selo dos eleitos
saíram dos covis incrustados na rocha
e caminharam sobre as cinzas do areal
com o tronco dobrado numa inércia ensaiada.
Traziam as mãos carregadas de oferendas
e uma ânsia de mastins esfaimados
na espessa baba que lhes corria dos cantos da boca.
Dos braços, sempre flácidos e pendentes,
crescera-lhes um emaranhado complexo de redes
com que aprisionavam os pequenos cardumes assustados
que depois vendiam às industrias de transformação.
Era assim que conquistavam o favor das ondas
e podiam atravessar, incólumes, o trilho das tormentas.
Imunes aos naufrágios, refugiavam-se nas fendas
e nas grutas escuras, escavadas na falésia,
atentos aos sinais e à mudança das correntes.
Quando os deuses se ergueram do fundo das águas
e começaram a repartir os despojos da maré,
rapidamente avançaram sobre a esteira de corais
e se desfizeram numa rebentação de vénias.
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