sexta-feira, 8 de abril de 2016

Para lá da ponte


fecho os olhos
e sinto-me a cair
sem ter onde me agarrar
a pique
sou levado
pela vertigem da queda
como um avião
abatido pelo inimigo

aterro
sem estrépito
nem sequelas aparentes
num terreno de ninguém
escapo ileso ao embate
e começo a caminhar
por entre o arvoredo
mas não sei onde estou

os céus são estranhos e baços
em permanente mutação
tetos baixos
carregados de mistério
avanço sem hesitações
como se já conhecesse o caminho
ou estivesse alguém
do outro lado
à minha espera

ouço portas que batem
ferrolhos que rangem
ecos que se prolongam
perseguindo-me os passos
véus a esvoaçar na penumbra
agitando a paisagem
nada me pode deter
sigo a direção do vento

há alguém à minha espera
para lá da ponte
pequenos vultos sorridentes
que me acenam na margem
coberta pelo musgo

chego-me a eles
reconhecendo-lhes os rostos
cintilam
a sua luz ofusca-me
antes de se esfumarem
abruptamente
quando os tento abraçar

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