sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

Visão cósmica de um coração enferrujado


Essa luz que do teu rosto irradia
é o reflexo de um céu que se contraiu
ou o embrião de uma nova estrela?
Poderá ela alimentar a chama que definha?

Que fluxo é este que o sangue bombeia
e faz vibrar o pêndulo do coração
restituindo-lhe a claridade perdida?

Atraído pela magia desse sorriso
devolvo ao olhar o azul do firmamento
e de novo refaço a dança dos astros.

O fogo não cessou por completo.
Nada está definitivamente encerrado.
Alguma coisa palpita ainda
neste pequeno cosmos enferrujado.

É possível, então, voltar a sonhar?

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terça-feira, 2 de dezembro de 2014

A estranha linguagem do amor


Ao lado da cama, onde ao meu filho
é drenado o ar acumulado
entre a pleura e o pulmão esquerdo
após pneumotórax reincidente,
um meigo velhinho de 94 anos
chama, num delírio constante,
por alguém que não está.
Depois ergue-se, de súbito,
e diz, com a voz embargada:
eu só quero voltar para casa
para ao pé da minha companheira.

Então, volta a deitar-se, serenado,
e diz de novo, num suspiro profundo:
já somos casados à 76 anos
e ela chora quando eu não estou.

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