Que nome te hei de dar
agora que me entraste no sonho
e descalça caminhas
por entre o veludo macio
das areias molhadas
resgatando ao som dos búzios
o longínquo cântico
de sereias bronzeadas
Fecho os olhos
e deixo-me embalar
pelo espasmo dos sentidos
sabendo que qualquer miragem
nos afasta da sede
e da estéril erosão das dunas
onde nos sentámos
à espera da rebentação
Tudo o que nos separa
é apenas a ilusão da carne
a transparência breve
de uma cortina de espuma
o click de uma janela
acesa na escuridão
como um farol vigilante
apontando o caminho
Com o avanço das marés
há de nascer em nós
esse irremediável desejo
de vencer a fúria dos oceanos
erguer a ponte de conchas
capaz de abraçar todas as margens
e aproximar de novo os corpos
que o fogo inflamou
Talvez seja esta distância
afinal de contas
aquilo que para sempre nos une
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