quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

O grito


O pintor desenhava na tela
intricados dédalos
onde vagueava pelas tardes
à procura de um caminho.
Um norte qualquer
para uma ponte que não existia.

Até a paisagem se toldar
num crepúsculo adiado
e os traços difusos do pincel
lhe devolverem as cores densas
de um grito
tolhido no frio da boca.

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quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

Jogo de espelhos


Esboço um bater enferrujado de asas
incapaz de retomar o rumo do voo
interrompido pela chegada do temporal
e todos os dias me deixo retalhar
pelo frio que desce com a noite
envolto numa adaga silenciosa

Há um poço seco e profundo
onde outrora havia uma árvore.
Um aviso para os que ainda sonham
agarrados a uma visão antiga.
Um mal que a paisagem regurgita
e se estende para lá do fim das ruas

Uma voz sai de dentro dessa fenda
como um animal exposto ao frio,
um lamento que o vento desfralda
onde o inverno moldou o barro
que coalha agora a sombra dos becos
que galgam os patamares das casas

Arrastando as asas no alcatrão
busco um mapa que me revele o caminho
ou um sentido que me oriente para a claridade
até que o encantamento termine
e eu deixe de ser apenas um reflexo
devolvido pela ânsia cega dos espelhos

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